Consiferações sobre a Mostra Cinema e Sexualidade
O tema do filme Anjos do Sol (dirigido por Rudi Lagemanni) – a exploração sexual de adolescentes – despertou diferentes reações, desde risos nervosos a comentários de indignação que foram bastante explorados durante o debate. De certo modo, a forma banal e violenta como a sexualidade e o sexo estavam sendo retratados no filme incomodou os estudantes. Pelo fato deste filme ser mais brutal e “forte” que o anterior, notamos a movimentação das cadeiras, as saídas e, nas cenas mais grotescas, risos. O sexo ali, foi retratado como construção penosa, violada e corriqueira. Para a professora Ana Cristina Givigi, do Centro de Formação de Professores da UFRB,
“Quando o sexo é dessacralizado pelo comércio, pela desingularização e torna-se espaço de sobre-vida dos corpos, o susto percorre o corpo das pessoas. "O que será do mundo sem moral?", pergunta ávido o ego que parece não poder viver sem as detenções de papai e mamãe!! E não pode!!!
A escola vendo o filme, mostra como as regulamentações e normatizações do sexo sobre o corpo fazem dele um lugar moralizado e voltado a uma perspectiva transcendente. Quando isso é violentamente abalado, como no caso da forma como as meninas tornam-se objeto de mercado, há de se perguntar: viola mais as pessoas o fato do ser humano ser equivalente à mercadoria ou do sexo ser descentrado como o que há de maior e mais importante na sociedade?
O filme Anjos do Sol colaborou para que meninos e meninas pensassem em sua condição, em sua sexualidade, “a forma como é construída, legitimada, regrada e, que lugar essa construção, com todas as escolhas que lhe são pertinentes, ocupam na vida deles. De fato, o importante é pensar se a sexualidade não é sempre uma construção contingente, por vezes, eivada de violências e imposições” (Ana Cristina Givigi).
A exibição do filme Meninos não Choram, durante a Mostra Sexualidade no Cinema também causou reações fortes nos estudantes e professores. Com relação aos primeiros, notamos diferentes expressões de incômodo, de sátira e de banalização das diferentes cenas de violência (estupro, por exemplo) às quais foi submetida a personagem principal – uma garota, moradora do interior dos Estados Unidos, que assume a identidade de um garoto e que enfrenta o preconceito e a exclusão por parte daqueles com quem ela tenta se relacionar.
Grande parte dos comentários durante o filme era marcado por expressões de indignação e preconceito em relação à opção sexual da personagem. Após a primeira cena erótica entres as protagonistas, a professora que acompanhava a turma expressou certa indignação e retirou-se da sala, não voltando nem ao menos para o debate.
Essas reações – banalização, sátira, demonstração de preconceito etc. – nos mostram como o tema sexualidade, apesar das mais diferentes exortações – inclusive de professores – sobre a relevância de propostas didático-pedagógicas que o contemplem, ainda é tratado como um tabu na escola. Novamente nos deparamos com posturas unilaterais de sacralização do sexo, como bem destacou a professora Ana Cristina Givigi. Tais posturas deslocam a vivência sexual para o campo da moral, do religioso, do puramente biológico, desprezando aspectos fundamentais como a opção, a liberdade, as constituições idiossincráticas, as imposições sócio-culturais ou a trajetória dos sujeitos.
Assim, ao estabelecerem para a sexualidade um lugar marcado pela moral e pelo tabu, as posturas educativas acabam por acentuar preconceitos, ignorar a violência, a desinformação e desconsiderar a esfera do direito.
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