MOSTRA
Nuestra América
maio/2010
Durante o século XVI, conquistadores espanhóis elaboraram as primeiras visões do Novo Mundo ao mesmo tempo em que protagonizavam o genocídio inaugural da modernidade. Uma verdadeira parafernália de símbolos e imagens – provenientes de tradições tão distintas como as narrativas de Marco Pólo, as escrituras sagradas do cristianismo e as traduções eurocêntricas das memórias dos povos autóctones – se recombinaram em crônicas e oráculos que funcionaram como um verdadeiro caleidoscópio visionário que tinha por função primordial traduzir e dotar de sentido os acontecimentos excepcionais da conquista destas terras ignotas e suas gentes.
A violência e o fascínio delineavam as formas de uma utopia sem precedentes na história da humanidade. As fronteiras do império dos senhores do Reino de Castela, eram traçadas sobre as antigas divisões territoriais do mundo que entrava em colapso. O El Dorado, a Fonte da Eterna Juventude, o tesouro escondido dos Incas de Cuzco e as Sete Cidades Perdidas, moviam a ambição e o desejo dos homens e instituíam uma cartografia onírica que marcaria de forma profunda o destino histórico da América. Terra de aventuras e contrastes, dotada de uma natureza fabulosa e cheia de mistérios e surpresas e, principalmente, um mundo de vassalos à espera de senhores fortes, heróicos e poderosos, capazes de domar sua selvageria e dominar suas riquezas ilimitadas e seus costumes desenfreados.
Cinco séculos se passaram, inúmeras vezes o mito foi reelaborado. As revoluções de independência e seus caudilhos reinventaram sentidos e funções das estruturas sociais coloniais sem atingir de fato a tão sonhada autonomia. Revoluções projetadas em painéis no Distrito Federal mexicano, construído sobre os alicerces da antiga capital Azteca. Guerrilheiros andinos distribuindo panfletos sobre a China de Mao. Uma nova Eva santificada pelo poder purificador das massas operárias. A recorrente e tirana associação entre impotência e intervenção estrangeira. E um esforço crítico, sempre incompleto, intentando desmistificar os sentidos de uma dominação perversa que parece desdobrar-se de si mesma num movimento infinito de recomposição das formas autoritárias de espoliação econômica e subjugação das subjetividades.
Vítima e algoz da modernidade, a América Latina surge de maneira inesperada como uma invenção visual que iria colocar em xeque definitivo, não somente os universos que lhe dão forma e medida, mas, principalmente, as formas usuais de representações válidas nestes mundos. E quem sabe um dia, se possa delirar sobre os vínculos subterrâneos entre o florescimento do Novo Mundo e o advento da linguagem cinematográfica.
Boa Sessão.
Nuno Gonçalves
Prof. do Curso de História do CAHL/UFRB
Machuca. Chile / Esp. / Reino Unido, 2004.
Direção: Andrés Wood

20/05 - 19:00hs - Centro de Formação de Professores
Amores Brutos (Amores perros). México, 2000.
Direção: Alejandro González-Iñárritu

27/05 - 19:00hs - Centro de Formação de Professores
Vozes inocentes (Voces inocentes). México, 2004.
Direção: Luis Mandoki.

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